Resumo Nas últimas décadas, tem-se vindo a naturalizar entre os historiadores um discurso que, proclamando o “regresso do indivíduo” ou “da narrativa” – a face mais académica do “fim das ideologias” –, constitui a base de renovadas pretensões de autonomia face às ciências sociais. Tomando como ponto de partida o estudo de um caso exemplar – o de uma obra recentemente publicada em Portugal sobre as amantes régias –, este texto propõe-se examinar as principais questões metodológicas e teóricas colocadas por uma recuperada história narrativa de inspiração rankeana, e pela supressão do exercício teórico que, a seu reboque, e dominada pelas expectativas do grande público, tem servido uma progressiva diluição das fronteiras entre história e literatura. Abstract In recent decades, historians have come to take for granted an argument which, proclaiming the “return of the individual” or “of narrative” – the academic counterpart of the “end of ideologies” – has served as a basis for claims of increased autonomy vis-à-vis the social sciences. Starting from an exemplary case-study – a work recently published in Portugal about royal mistresses – this essay aims to examine the main methodological and theoretical issues raised by neo-Rankean narrative history and by the suppression of theoretical reflection which, in its wake, and pandering to the expectations of the wider public, has contributed to an ever greater blurring of the distinction between history and literature.