#7 da coleção "Filosofia ao Minuto", do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O texto de John A. Taylor segue abaixo na íntegra:
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Se Adam Smith tivesse alicerçado a sua filosofia moral em pensadores como George Berkeley, Jonathan Edwards, Arnold Geulincx e Nicolas Malebranche, como seria, neste momento, a teoria macroeconómica?
De acordo com Smith - que durante toda a vida recorreu à filosofia moral do seu professor Francis Hutcheson - a compaixão constitui uma restrição moral e involuntária à ganância, sendo, igualmente, geradora de benevolência.
Smith também argumenta que a natureza pode, por vezes, gerar a benevolência.
Para a macroeconomia, o problema, porém, reside no facto de uma filosofia moral baseada na compaixão já não ser convincente nos dias que correm. Para muitos economistas, Smith preconizou uma liberdade natural ou ilimitada frente à ganância.
Imagine-se, contudo, um sistema macroeconómico assente numa filosofia ocasionalista. A vantagem estaria à vista: os economistas disporiam de teorias diferentes sobre a causalidade natural e sobre a sorte ou o acaso, além de outras ferramentas de análise matemática. Sobretudo, passariam a dispor de mais opções para pensar o papel da filosofia moral na macroeconomia.
Usando as probabilidades matemáticas e demais ferramentas não colmatamos as insuficiências da razão, nas suas previsões. Careceremos sempre da sorte e da intuição para lidar com a natureza.
E é aqui que reside a difícil situação de muita da teoria macroeconómica no mundo académico de hoje.
Uma economia orientada para o crescimento conjuntural e o enriquecimento pessoal distingue-se de uma teologia cristã. Esta, num primeiro momento, adverte para a necessidade da razão ser complementada pela intuição e, depois, para a submissão à vontade divina, ainda que se sofra ao fazê-lo.
Ora, a filosofia ocasionalista dá-nos um norte proveitoso relativamente à intuição e às competências. Ela capacita-nos para o reconhecimento dos limites da razão, no tocante à causalidade natural.
Perante um sistema caótico, melhor será abandonarmos a esperança de fazer previsões precisas, embora devamos procurar descrevê-lo.
Depois, ao descobrirmos padrões, podemos relacioná-los com os nossos próprios comportamentos.
Observando tais relações, alcançaremos um certo sucesso, mesmo sem termos uma perceção nítida do nexo de causalidade subjacente.
Sem nunca chegarmos a imperar sobre a natureza,...