#9 da coleção "Filosofia ao Minuto", do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O texto de Iuliia Nikitenko segue abaixo na íntegra:
***
No universo, tudo está relacionado.
"E eu observo os laços que me vinculam a tudo quanto vive", escreveu o poeta russo Osip Mandelshtam.
"Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio", declamou o poeta e sacerdote inglês John Donne.
Serão estas relações engendradas de uma vez para sempre – por Deus, pela natureza ou pelo destino – ou teremos nós a possibilidade de geri-las?
Poderemos apenas desenvolver a capacidade de sentir tais relações com maior precisão ou também poderemos moldá-las?
E se formos capazes de agir sobre elas, como é isso possível?
Eis as questões abordadas no breve e inacabado ensaio De vinculis in genere, de Giordano Bruno.
Bruno sustenta que não só somos sensíveis aos elos que nos relacionam com outrem como também podemos criá-los propositadamente.
Quem pratica a magia em conformidade com as regras, tem necessidade de discernir os vínculos existentes entre os objetos e pode explorá-los.
No domínio da magia social – pois o principal interesse do ensaio de Bruno são as relações humanas – convém que quem a pratica se transforme consoante a natureza da pessoa à qual pretende vincular-se, e atenda às circunstâncias em que isso se desenrola.
Mantendo-se fiel à doutrina platónica da beleza absoluta que coincide com o bem absoluto e é a mais poderosa fonte de atração, Bruno não deixa de reconhecer que o absolutamente belo não é tão atraente quanto aprazível.
Daí que a gestão do prazer do sujeito a quem o vínculo diz respeito importe mais do que o estabelecimento de uma conexão com a nascente da beleza absoluta.
Em Bruno é notável a elevada valorização do particular e a reapreciação da prática.
O discernimento e habilidade para identificar um rumo converte-se na qualidade exigida a quem está a estabelecer laços, ao passo que a sensibilidade permite que alguém se converta no alvo do elo.
Quanto mais apurada e delicada for a perceção que se tem, mais elevado será o número de relações em que se poderá participar e melhor a qualidade das mesmas.
Assim, cabe igualmente ao ser humano agir sobre si mesmo de modo a ser atraído por pessoas e coisas melhores.
***
Pode aceder à página da coleção in https://www.uc.pt/fluc/uidief/Pub/Filosofia_ao_Minuto