A literatura especializada na Argentina e no Brasil se refere de maneira recorrente à burocracia econômica durante o período que vai dos anos 1930 a 1966. No entanto, em raríssimas ocasiões o assunto é abordado com alguma sistematicidade. Há, portanto, uma dificuldade de saída, que consiste em encontrar textos e fontes que apresentem dados confiáveis sobre quem eram essas pessoas e quais eram suas características profissionais e ideológicas. O nosso estudo procura reunir, da forma mais sistemática que nos foi possível, um leque de informações sobre esse grupo espalhadas por toda a literatura consultada ao longo da pesquisa. Para tanto, era importante ter algum critério de inclusão na formação da lista dos indivíduos que compõem a burocracia econômica dos dois Estados. Por óbvio, todo aquele que fosse citado como membro das agências estatais referidas em capítulo anterior (ver Renato Perissinotto, Ideas, burocracia e industrialización en Argentina y Brasil. Buenos Aires, Lenguaje claro Editora, 2021) e sobre quem se revelasse uma carreira pública prévia foi incluído na nossa lista. Esse critério não redundou num corpo de burocratas puros, já que alguns empresários, assessores pessoais ou mesmo políticos profissionais participam dessas agências com alguma frequência depois de terem ocupado outras posições no serviço público. De qualquer forma, há sim um predomínio de indivíduos oriundos do setor público nos dois países. Usamos dois critérios de exclusão. O primeiro retirou de nossa lista qualquer indivíduo que estivesse nessas agências explicitamente como representante do setor empresarial; o segundo, excluiu aqueles que entraram no serviço público pela via direta das altas posições ministeriais ou que, depois de uma trajetória quase toda concentrada em cargos políticos eletivos, são alçados àquelas posições. Se o nosso objetivo é analisar a burocracia econômica, sua permanência na administração pública e sua ideologia, não faria sentido colocar na lista aqueles que são, antes de tudo, representantes do setor privado e aqueles que chegam ao serviço público pela via de um recrutamento exclusivamente político e, por consequência, muito sensível às mudanças de conjuntura. Isso não quer dizer que todos os empresários sejam excluídos da nossa amostra. Alguns aparecem no nosso universo, mas lá estão menos como representantes corporativos do setor empresarial e mais por terem sido capazes de converter seu capital econômico em influência política no setor ...